A meta será de 3%; Tebet diz que a decisão pela mudança foi unânime e Haddad destaca que a alteração alinha o Brasil com o restante do mundo
O Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu nesta quinta-feira (29/6) adotar a meta contínua para a inflação a partir de 2025, em substituição ao uso do ano-calendário como base. As informações foram dadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, em entrevista coletiva. Tebet destacou que a decisão foi unânime. “Os votos foram por unanimidade, não houve objeção, é bom deixar muito claro isso”, afirmou ela.
Ao mesmo tempo, a meta para 2026 foi fixada em 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. São os mesmos percentuais já anunciados para 2024 e 2025, e que foram mantidos. Tebet destacou que a decisão pela manutenção desses níveis reflete o fato de que as expectativas dos analistas do mercado já apontam para inflação dentro do intervalo em 2024, 2025 e 2026. “Não tinha sentido mudar a meta neste momento. Isso garante segurança jurídica, garante previsibilidade e mostra para o mercado que a nossa análise é antes de tudo uma análise técnica”, afirmou a ministra do Planejamento.
Haddad destacou que a mudança da meta de ano-calendário para contínua alinha o Brasil com o que já é praticado nos principais países do mundo e representa um ganho. “Você não fica amarrado ao ano-calendário, que pode implicar uma série de constrangimentos insuperáveis”, disse o ministro. “Como disse o [presidente do Banco Central] Roberto Campos Neto hoje, é mais eficiente – a palavra é dele – é mais eficiente, porque você não fica amarrado ao ano-calendário, você tem um horizonte relevante um pouquinho de médio prazo que permite uma trajetória consistente com outras questões que precisam ser consideradas”, disse o ministro.
Segundo Haddad, o que se fazia antes no Brasil, quando havia uma crise, era abrir mão da meta para cumprir o ano-calendário. “Agora faz-se o contrário, você mantém a meta abrindo mão do ano-calendário”, disse o ministro. Ele deu como exemplo o que está ocorrendo atualmente em alguns países da Europa, em que a inflação está acima da meta, mas ela é mantida. “Isso é trabalhado de maneira sóbria pela autoridade monetária, que sabe que não vai conseguir atingi-la de um ano para o outro”, disse ele.
O ministro acrescentou que, com o sistema de meta contínua, a prestação de contas da autoridade monetária tende a ser mais frequente. “O monitoramento sobre a trajetória é permanente”, disse ele. Os detalhes quanto à periodicidade e o modo dessa prestação de contas, explicou Haddad, serão definidos por um decreto que virá mais adiante, mas será seguido, em linhas gerais, o padrão internacional. “Não estamos desenhando um modelo novo, estamos fazendo o que já é feito no mundo inteiro, que tem um padrão e que nós vamos adotar.”
Haddad disse ainda que economia brasileira chega bem a esta reunião do CMN. “Ela chega numa situação em que cortes robustos da taxa de juros podem ser praticados a partir de agosto sem nenhum risco de desancoragem”, afirmou, chamando atenção para o fato de que a taxa Selic está atualmente em 13,75%, para uma expectativa de inflação pouco acima de 3%.
Também nesta quinta-feira, o CMN anunciou uma série de medidas relacionadas ao Plano Safra, voltadas principalmente para o pequeno agricultor. Veja mais detalhes sobre isso aqui.
Foto: Diogo Zacarias/Ascom-MF