ENQUANTO HÁ TEMPO | Simone Tebet
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A nova esperança
do Brasil

ENQUANTO HÁ TEMPO

Senadora Simone Tebet

Nessa segunda-feira, a crise mostrou sua verdadeira face. Não me refiro, agora, à nossa crise interna, brasileira (de fundo político e institucional). Refiro-me, sim, à crise de proporções globais que derrubou todas as bolsas do mundo. O potencial explosivo dessa crise não pode ser minimizado. Juntem-se a queda recorde do preço do petróleo (que deve ser seguida pela queda de outras commodities, e que demonstra a sensibilidade e o efeito explosivo do mercado às atitudes de poucos), e as perspectivas cada vez mais assustadoras de uma pandemia mundial do coronavírus, que já colocou pelo menos um país inteiro (a Itália) em situação de quarentena, e estaremos ingressando no pior dos mundos.

Todos os protagonistas da economia mundial, e todos os governos responsáveis do planeta, estão se preparando para enfrentar aquela que tem potencial para se transformar em uma das maiores crises do mundo moderno.

Quando digo governos, não me refiro apenas aos executivos dos vários países. O que estamos vendo pelo mundo – em alguns lugares com mais força, em outros com menos (ainda) –, é a união de todas as autoridades responsáveis, em todos os poderes e níveis de administração, para combater uma conjunção de fatores que, se deixados por suas próprias contas, podem ser catastróficos para todos.

Crises da proporção desta em que estamos ingressando são, antes de tudo, democráticas: afetam a todos, homens e mulheres, governantes e governados, pobres e ricos.

Numa situação dessas, ou damos as mãos e nos salvamos juntos, ou nos perderemos todos.

 É o apelo que faço neste momento, e o dirijo às autoridades brasileiras de todos os níveis e de todos os poderes: neste momento, precisamos abandonar tudo o que for acessório – e aqui incluo disputas políticas e de poder – e nos concentrar no principal, que é organizar as instituições e o povo brasileiro para o enfrentamento dos grandes desafios que já batem às nossas portas.

Não seremos capazes de fazê-lo com ódios, radicalismos e desunião, mas somente com equilíbrio, moderação e diálogo.

Lembro-me de uma prática instituída pelo Presidente Itamar Franco (que mesmo os desafetos sempre reconheceram como um homem eminentemente democrático) e que, infelizmente, não foi continuada pelos governos seguintes. Embora sem periodicidade definida, sempre que necessário, reuniam-se os chefes dos poderes, para discutir a situação do país e os grandes temas nacionais. Não se tratava de interferência de um poder sobre outro, mas, muito pelo contrário, de uma troca de ideias e experiências tendo em vista o bem maior do país e do povo. Tratava-se, na verdade, de respeito ao preceito constitucional de que os poderes são independentes, sim, mas devem ser harmoniosos entre si. Entendia-se, então, que a grande virtude das autoridades públicas é saber colocar o interesse de todos acima dos seus interesses, pessoais ou de grupo.

O que vemos, hoje, é exatamente o contrário. Numa versão distorcida da oração de São Francisco, onde havia equilíbrio, trouxeram instabilidade; onde havia moderação, implantou-se o radicalismo; onde havia diálogo, instituiu-se o monólogo como ferramenta da política.

Quem fala apenas para os seus, fala apenas para si mesmo.

 Ainda assim, e sem querer ser alarmista além do que a realidade nos impõe, não posso deixar de acreditar na capacidade de nossas lideranças políticas adotarem uma posição sensata diante da realidade que, queiramos ou não, se impõe, e se imporá com ainda mais força, a todos nós.

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