A senadora Simone Tebet evidencia a representatividade feminina política e a importância das mulheres na disputa por espaços de poder.
Bruna Taiski
Foto: Raimundo Sampaio/Esp.
Nos últimos anos, o Brasil vivenciou uma progressão no debate público em torno das questões femininas. Temas como assédio, maternidade e carreira, vêm sendo discutidos amplamente na sociedade e ganhando espaço no cenário político. A luta pelo direito das mulheres vem progredindo não só no Brasil, mas em todo o mundo. Porém, no que tange a representatividade das mulheres na política, esse debate ainda se encontra muito distante do desejado.
Muitas mulheres ainda têm dificuldades de ocupar cargos de poder, serem eleitas ou terem voz ativa nas tomadas de decisões políticas. Isso acontece devido à exclusão histórica das mulheres na política e que reverbera, até hoje, no nosso cenário de baixa representatividade feminina no governo.
Na entrevista desta edição, a Gente aprofundou a representatividade feminina na política em uma entrevista exclusiva com a senadora pelo MDB de Mato Grosso do Sul e a primeira líder da Bancada Feminina do Senado, Simone Tebet.
Simone – 51 anos – vem construindo um cenário de conquistas dentro da política e coleciona inúmeros pioneirismos. Foi a primeira mulher a presidir a Comissão de Constituição e Justiça do Senado, a mais importante da Casa, entre 2019 e 2020. Também foi a primeira mulher a liderar a bancada do MDB no Senado, em 2018. E, por fim, a primeira mulher a se candidatar à presidência do Senado, em 2021.
No início de seu mandato como senadora, foi eleita presidente da Comissão Mista de Combate à Violência contra a Mulher. Simone entrou para a política como deputada estadual, depois, foi eleita prefeita da sua cidade natal, Três Lagoas, por duas vezes. Foi vice-governadora e entrou no Senado Federal em 2015. Tem sido reconhecida pelo Diap – Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar – entre os “100 Cabeças do Congresso Nacional” em anos consecutivos e foi bicampeã do Prêmio Congresso em Foco como a melhor representante do povo no Senado, escolhida pelo júri especializado, nos anos de 2018 e 2019.
RG: Primeiramente, quem é Simone Nassar Tebet?
ST: Sou filha de Três Lagoas, do Mato Grosso do Sul. Sou mulher, mãe, filha, esposa, política, advogada, professora. Como tantas brasileiras, sou múltipla. A crença nas minhas convicções é o que me dá coragem para seguir em frente.
RG: Como foi o seu encontro com a política? Qual foi a motivação para virar candidata e querer disputar esse espaço?
ST: Sou filha de um político consagrado de MS. A memória de Ramez Tebet é reverenciada. Até hoje, as pessoas falam dele com muito carinho e admiração, e isso muito me orgulha.
Meu interesse pela política começou cedo. Aos cinco anos, gostava de ouvir ‘atrás da porta’ as reuniões de meu pai com as lideranças de Três Lagoas. Era, também, uma forma de estar próxima dele.
Os anos passaram e comecei a ajudar nos bastidores das campanhas eleitorais. Me formei em Direito, comecei a trabalhar como professora universitária e virei servidora da Assembleia Legislativa. Fui estimulada pelo meu pai a entrar para a política. Resisti por quatro anos, até que saí candidata a deputada estadual e fui eleita em 2003. Depois, fui eleita prefeita de Três Lagoas, vice-governadora e Senadora. Nesta trajetória já se passaram quase 20 anos.
RG: Sabemos que o seu pai, saudoso Ramez Tebet, é uma das suas grandes inspirações, mas quando falamos de mulheres no meio político há alguém que você também admire muito?
ST: São muitas mulheres marcantes e fundamentais para chegarmos onde estamos hoje. Simone de Beauvoir é uma referência mundial. A sufragista Emmeline Pankhurst não pode deixar de ser citada. No Brasil, temos Bertha Lutz, Patrícia Galvão – Pagu, Rose Marie Muraro. Além disso, temos escritoras, como Clarice Lispector; artistas completas como Bibi Ferreira e Fernanda Montenegro. E na política, tive a grata satisfação de conviver com Marta Suplicy.
RG: E como vê a participação das mulheres nos espaços de poder e decisão no Brasil?
ST: Estamos conquistando nossos espaços. O caminho ainda é muito longo e temos de ser persistentes. Nossa representação política ainda é baixa e caminha a passos lentos. Em MS, por exemplo, só elegemos cinco prefeitas no ano passado. No Congresso, não ultrapassamos a marca dos 15%. Apesar de poucas, somos aguerridas. Lutamos para avançar mais nas ações que garantam o empoderamento da mulher não só na política, como também no mercado de trabalho e na conquista dos nossos direitos em prol de uma sociedade mais justa e igualitária.
RG: Quais são os valores femininos que podem contribuir para o resgate de uma responsabilidade solidária com a humanidade e com o planeta?
ST: Empatia, solidariedade, amor.
RG: Quais são os tipos de mudanças na política e na sociedade que acontecem quando as mulheres ocupam estes lugares de poder?
ST: Naturalmente, a mulher tem um olhar mais sensível, especialmente para as demandas sociais. Também temos uma visão mais holística que a dos homens e uma grande capacidade de organização e planejamento. São qualidades que, quando bem aplicadas na gestão política, geram bons resultados.
Temos visto, por exemplo, que mulheres líderes de Nações estão dando um show de gestão desta crise da pandemia sanitária da Covid-19.
“O caminho é longo e cheio de pedregulhos. Muitas vezes, precisamos chutar a porta para ocupar nossos espaços e abrir oportunidades para as mulheres que vierem depois de nós”.
RG: Lançando um olhar de mulher no governo federal, estadual e municipal, que tipo de avaliação você faria do ponto de vista das fragilidades, desafios e conquistas?
ST: Nosso principal desafio é a falta de visibilidade. Precisamos de mais espaços nos partidos e nas campanhas, para realmente conquistarmos cargos eletivos.
Claro que, em retrospectiva, percebemos diversos avanços: política de cotas, mínimo de 30% de financiamento e tempo de campanha política no rádio e TV, mas ainda somos vítimas das candidaturas-laranja, fraude que deve ser combatida com rigor. Nossa voz ainda precisa ter um tom mais elevado para ser ouvida, mas há de se reconhecer que hoje somos muito mais respeitadas.
O caminho é longo e cheio de pedregulhos. Muitas vezes, precisamos chutar a porta para ocupar nossos espaços e abrir oportunidades para as mulheres que vierem depois de nós.
RG: Senadora, para finalizar, o que pode ser feito para impulsionar e fortalecer a participação das mulheres na política?
ST: Eu apresentei um projeto que estabelece cota mínima de 30% para mulheres nos comandos dos partidos. O objetivo é dar vez e voz para que elas tenham poder de decisão dentro da estrutura das agremiações partidárias para que possam, inclusive, interferir na escolha das futuras candidatas.
Essa mudança pode ser um grande passo para combater as “candidaturas-laranja”. O olhar feminino buscará, para compor as chapas, mulheres com liderança, capacidade e real potencial de vencer as eleições.
Com mais visibilidade e boas candidatas, teremos condições de ampliar o percentual de eleitas e sair desta vergonhosa posição de lanterna no ranking internacional de representatividade feminina na política.
https://www.raragente.com.br/tres-lagoas/noticia/entrevista/entrevista-senadora-simone-tebet-fala-sobre-a-participacao-das-mulheres-nos-espacos-de-poder-e-decisao-no-brasil