
A Ministra do Planejamento e Orçamento sugeriu em Belo Horizonte que o planejamento de longo prazo incorpore esse compromisso como caminho para reduzir a pobreza, a miséria e a desigualdade no país
Dobrar o PIB per capita do Brasil até 2050. Esta é uma das metas sugeridas pela ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, durante o encontro regional Diálogos para Construção da Estratégia Brasil 2025-2050, realizado nesta sexta-feira (21/03), em Belo Horizonte (MG). A proposta integra um plano de longo prazo que está sendo elaborado de forma participativa pelo Governo Federal, com o objetivo de orientar o desenvolvimento do país pelos próximos 25 anos.
Realizado no Auditório Paulo Camilo, no BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais), o evento reuniu especialistas, representantes dos governos estaduais e municipais, do setor produtivo, da academia e da sociedade civil. Durante o encontro, Tebet apresentou os pilares da Estratégia Brasil 2025-2050, destacando o caráter suprapartidário, coletivo e de Estado da iniciativa. Segundo a ministra, o plano busca construir uma visão de futuro para o país, com uma governança sólida, capaz de garantir a continuidade das políticas públicas essenciais, independentemente de mudanças de governo.
A ministra citou como exemplo o impacto das mudanças climáticas sobre o preço dos alimentos ao longo dos anos. Esta, segundo ela, é uma pauta que interessa a toda a população independente de inclinação ideológica e que precisará ser tratada por todos os governantes. Segundo Tebet, é possível, em curto prazo, adotar políticas que ajudem a proteger a população contra aumentos expressivos nos preços. Para isso, é fundamental que o planejamento estratégico inclua ações concretas de enfrentamento e medidas públicas que promovam a segurança alimentar e a estabilidade econômica.
Pensar no futuro, nesse contexto, explica Tebet, significa antecipar desafios e desenhar respostas eficazes para evitá-los. “Essa estratégia de 2025 a 2050 foi construída exatamente com base na pergunta: que Brasil queremos para os próximos 25 anos? Se o objetivo é conter a alta no preço dos alimentos, mesmo diante das mudanças climáticas, por exemplo, precisamos de uma política de enfrentamento que nos permita criar mecanismos de proteção. Esse tipo de ação precisa estar previsto na estratégia. É preciso pensar em como chegar lá e quais políticas públicas podemos adotar para isso”, disse a ministra.
Um olhar realista: ativos e desafios do Brasil atual
Durante sua apresentação, Tebet também fez um diagnóstico do Brasil atual, identificando tanto os ativos quanto os passivos do país. Entre os pontos positivos, ela destacou a riqueza natural e biodiversidade brasileira, o agronegócio altamente produtivo, o grande mercado consumidor interno, o Sistema Único de Saúde (SUS), a estabilidade macroeconômica e a matriz energética majoritariamente limpa.
Por outro lado, a apresentação não ignorou os desafios: alta desigualdade de renda, pobreza persistente, desmatamento elevado, déficit de infraestrutura, educação básica com desempenho abaixo do esperado em avaliações internacionais, informalidade elevada e desindustrialização precoce.
A estratégia também aponta a transição demográfica como um fator crítico e que precisa ser discutido uma vez que terá impactos diretos sobre a previdência, o sistema de saúde e o mercado de trabalho. “Em 2050 a maior parte da população vai estar acima dos 50 anos. Este é um grande problema para as políticas públicas no Brasil. É agora ou será tarde demais. Ou nós realmente fazemos o dever de casa nos próximos anos ou vai ficar cada vez mais difícil”, disse a ministra.
Que Brasil queremos ser até 2050?
Tebet explicou que o planejamento de longo prazo está ancorado em quatro grandes pilares: prosperidade, justiça social, inclusão e sustentabilidade. Cada um deles está associado a metas mensuráveis e diretrizes que buscam enfrentar os principais desafios estruturais do país.
Um deles é a baixa produtividade da mão de obra brasileira que limita o crescimento de forma homogênea. A ministra Simone Tebet salientou que é preciso melhorar este cenário para ter um Brasil diferente em 25 anos. Durante a palestra, ela explicou que nas últimas duas décadas, algumas das principais economias emergentes do mundo demonstraram avanços expressivos em produtividade, especialmente quando observamos o indicador de PIB por hora trabalhada. No mesmo intervalo, o Brasil teve avanços tímidos.
“A China partiu muito atrás da gente. Olha só: nós estávamos com US$16 [cada hora trabalhada no país gera o equivalente a 16 dólares em poder de compra], eles em US$4,5 [em 2005]. Em cerca de 20 anos eles nos alcançaram. Ou seja, quadruplicam a produtividade, enquanto nós praticamente não saímos do lugar”, explicou a ministra ao analisar dados da Organização Mundial do Trabalho (OIT). Números mais recentes mostram que cada hora de trabalho no Brasil gera uma produção equivalente a U$ 22 em poder de compra, considerando os preços e o custo de vida brasileiro.
A meta que norteia o eixo da prosperidade prevê dobrar o Produto Interno Bruto (PIB) per capita até 2050, hoje em R$ 55.247,45. Para alcançar esta marca é necessário ampliar investimentos em áreas estratégicas como infraestrutura, logística, Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), educação e produtividade. Embora o Brasil tenha registrado dois anos consecutivos de alta acima de 3% no PIB, o que é positivo, isso ainda é insuficiente para enfrentar a desigualdade social, se esse avanço não vier acompanhado de um crescimento per capita consistente.
“Eu quero dar um desafio para vocês. Coloquem na nossa estratégia [as diretrizes para atingir essa meta], que a gente vai dar conta de cumprir, se for a vontade de vocês. Vamos dobrar o PIB per capita no Brasil em 25 anos? Isso vai dar um ganho, não é para o crescimento do país, vai dar um ganho no sentido de acabar com a miséria, diminuir a pobreza e diminuir a desigualdade social.”, disse.
Um Brasil mais inclusivo e sustentável
Um dos passos para dobrar o PIB per capita é aumentar a participação das mulheres no mercado de trabalho. Neste caminho Tebet destacou que o país precisa investir em políticas que promovam igualdade de oportunidades, especialmente em relação aos ganhos salariais onde a diferença de rendimento entre gênero ainda é significativa.
“Eu faço um apelo ao setor produtivo, ao comércio, ao agronegócio e à indústria. Não vamos ter medo da igualdade salarial entre homens e mulheres.Vamos igualar salários daqueles que têm o mesmo currículo, o mesmo tempo de trabalho e a mesma capacidade. […] Hoje ganhamos até 25% menos, se for uma mulher negra, pode ganhar até 40% menos. [O dinheiro que a mulher ganhar] ela vai jogar no consumo e isso vai girar a roda da economia e vai voltar em dobro para a indústria, para o comércio”, disse.
Alinhar o país às metas globais de combate às mudanças climáticas é outra frente central da estratégia. A meta é ousada: tornar o Brasil neutro em carbono até 2050. Tebet alertou para os riscos econômicos e sociais caso o país não atue com firmeza: milhões de empregos e trilhões de reais no PIB podem ser perdidos se não forem adotadas políticas ambientais efetivas.
“O impacto que pode causar se nós não resolvemos a questão climática com um cenário de [alta na temperatura de] 4 graus. […] nós podemos estar falando em uma uma perda acumulada do PIB brasileiro que pode ultrapassar R$ 1 trilhão e 500 bilhões de reais e o Brasil pode chegar a perder 3 milhões e 500 mil de empregos até 2050”, explicou a ministra.
O evento em Belo Horizonte representou mais que uma etapa de escuta: foi um espaço concreto de diálogo entre diferentes setores da sociedade. Ao lado de especialistas e lideranças regionais, a ministra destacou que a Estratégia Brasil 2025-2050 só será bem-sucedida se for construída de forma participativa, com diálogo permanente e consensos em torno de prioridades estratégicas.
Os encontros regionais promovidos pelo MPO buscam justamente ampliar essa escuta, incorporando as especificidades de cada território e promovendo o protagonismo local no debate sobre o futuro do Brasil. O objetivo é que a versão final da estratégia — a ser lançada ainda este ano — reflita a diversidade do país e esteja ancorada em decisões compartilhadas entre Estado e sociedade.
Fonte: MPO