Simone Tebet quer ser a primeira mulher a presidir o Senado:

Entrevista Exclusiva – Revista IstoÉ

“Vou optar pela rouquidão de ouvir”

O que a motivou a disputar a presidência do Senado?

Não me motivou o querer. O pós-pandemia não admitirá que a política permaneça à base do tudo como está, nem como estava. A política vai exigir novos paradigmas, novos moldes e novas posturas.

Se eleita, como serão conduzidas essas mudanças que a senhora julga necessárias?

Serei presidida, antes de presidir. O plenário adquirirá a devida soberania. Optarei pela rouquidão do ouvir, antes de falar. Na relação institucional com outros Poderes, me pautarei pela independência harmômica, priorizando sempre o que for melhor para o País.

E como se sentirá, caso eleita, como primeira mulher a assumir a presidência do Senado?

Confesso que com uma certa pitada de tristeza e de indignação, porque são quase duzentos anos de uma galeria de fotos de ex-presidentes do Senado que estampa somente homens, havendo esse débito com as mulheres. Ao mesmo tempo, esse fato aumenta a minha responsabilidade e reforça os meus compromissos, os mesmos de quando assumi, também como a primeira mulher, a presidência da Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

Por que as mulheres não têm maior representatividade na política?

Somos, hoje, a maioria da população e do eleitorado brasileiro, além 15/01/2021 11:16 Página 5 de 8 do percentual também maior dos estudantes universitários. Somos 80% dos professores da educação básica. Se somos tantas, e em funções de tamanha importância, até mesmo na preparação das bases para a construção do nosso futuro, por que as nossas instituições de poder mantêm o timbre masculino nas suas direções maiores?

Qual a importância do Senado, neste momento de crises múltiplas, econômica, social, sanitária e humanitária?

O Senado desempenhará o mesmo papel de quando foi chamado em outros momentos de crise. E eles foram muitos e de crises igualmente profundas. Teremos de caminhar, em conjunto com as demais instituições, no sentido de um grande projeto de desenvolvimento nacional e não somente crescimento. A pandemia desnudou, ainda mais, o que mais nos envergonha no cenário mundial: as nossas desigualdades sociais. Aí mora o conceito de desenvolvimento que eu incluo no nosso necessário projeto nacional.

O Senado terá um papel importante na construção deste projeto?

No curtíssimo prazo, dois assuntos devem ser absolutamente prioritários: a política nacional de imunização contra a Covid que, além do degrau da crise sanitária, se elevou ao patamar da crise humanitária e a definição de um valor para a continuidade do auxílio emergencial, dentro dos limites fiscais e com o devido cuidado para que ele se direcione a quem, de fato, necessita.

E as reformas?

No conjunto maior dos assuntos, em especial quanto às necessárias reformas estruturantes, como a tributária e a administrativa, diria que o papel do Senado é o da arquitetura, cabendo a engenharia ao Executivo, que é quem detém as informações necessárias ao alicerce das propostas legislativas. Nestes mesmos casos, a necessidade da harmonia institucional também sobe de patamar.

A tramitação das reformas anda a passos lentos no Congresso Nacional, não?

Evidente que sim. Para quem diz que a pandemia paralisou a discussão de matérias das mais importantes para o país, como a reforma tributária, eu não chego a negar, mas creio que ela também trouxe um efeito propulsor do daqui em diante. Não será imediata a recuperação da nossa economia e a consequente geração de empregos, mas ela será ainda mais arrastada no tempo se não fizermos o nosso dever de casa no sentido de solucionar a perversidade do nosso sistema tributário, onde quem ganha menos paga mais.

A senhora se coloca como crítica à proposta enviada pelo governo ao Congresso. O que precisa mudar para o projeto ser aprovado?

A minha crítica sempre foi no sentido de dar agilidade e melhor conteúdo à proposta. Dentre todas as reformas, a tributária é um dos melhores exemplos de proposta que não pode ser gerada, unicamente, a partir do Congresso. É o Executivo que detém as principais informações sobre a questão fiscal. Faltam-nos informações essenciais, assim como avaliações de dados de auditoria sobre renúncias fiscais e o tamanho da dívida dos estados. O governo se apegou a um arremedo de reforma. Se prendeu à “nota só”, que foi a criação de um novo imposto sobre transações financeiras, o que eu chamei de “CPMF de batom”.

Se eleita a senhora fará oposição ao governo?

O presidente do Senado não pode ser um crítico contumaz, mas também não um mero subordinado a outros poderes.

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